sábado, 26 de março de 2011

Música portuguesa

Falar de gostos é sempre difícil, dizem que não se dicutem.
Respeitando toda a gente, sempre achei que não existe neste campo,  da cultura musical (como em quase tudo nesta terra), uma política de dar a conhecer às pessoas o que é de facto enriquecedor, a boa música, quem é de facto um artista a sério. Não o que se vê é um povo burro de todo, que grande parte só quer ouvir música brejeira, tipo "Quem é o pai da criança", e outras pimbalhadas, porque é disso que lhe impingem, e como pensar, dá muito trabalho, não vale a pena parar para ouvir alguma coisa interessante, isso  é coisa para intlectuais. Se na governação estão uns parolos, ao povão há que lhes dar em doses macissas, música pimba, porque quanto menos cultos e evoluídos melhor.
Nos programas televisivos da manhã, e aqueles depois da hora de almoço,  não divulgam trabalhos de gente  capaz, só se vêm desfilar artistas de meia tigela. É uma realidade que não conseguem levantar da cama um artista com nome, para ir a um programa de tipo "Encher balões", a culpa é dos canais, porque nunca apostaram na qualidade. Tivesse havido sempre um critério de qualidade e certamente eles lá estariam com prazer.
Tenho muita gente de quem gosto, no panorama musical português, com Rui Veloso à cabeça, grande músico, acho-o o anti-vedeta, gosto dele porque é bom em tudo, canta bem, toca como poucos, e não passa por cima de ninguém, impôs-se porque é o melhor só isso, dos meus contemporâneos, gosto do Paulo de Carvalho, cujo trajecto é discutível, mas a boa voz e a grande qualidade essa está lá toda, Dulce Pontes, chegou onde só os priviligiados chegam, mas parece que cá não tem espaço, até à Sara Tavares, um protento, gosto da Anabela noutro estilo, mas com muita qualidade e bom gosto. Passando para o fado que noutros tempos a minha geração não ligava nada, era uma música de bairros de Lisboa, e para turista ver, teve felizmente uma grande evolução, tanto nos músicos como nos fadistas, gosto da Marisa e da Ana Moura, chego a ficar arrepiado, eu que nem podia ouvir a palavra fado, quanto mais ouvir uma música inteira.
Há outros que aprecio, e nunca me esquecerei dos antigos que fazem parte da história da música portuguesa, mas aqui ninguém quer saber da história. Os bons actores e cantores portugueses já falecidos, ou que já estão em idade avançada devem ter a nossa admiração e respeito. Simone de Oliveira, Luís Piçarra, Tony de Matos, Rui de Mascarenhas, estes que conheci ouvi ao vivo, admirei e sei alguma coisinha, qualquer dia ninguém sabe nada nem destes nem de outros, porque talvez esteja por escrever a história da música portuguesa, para ficar para a posteridade, isso não deve dar dinheiro às editoras, e para isso não há dinheiros públicos, só há dinheiro para pagar ao Armando Vara, que de cargo em cargo, o indiciado do caso "Face oculta" vai enchendo o bolso, desta feita mais de meio milhão de Euros para ser despedido do BCP, onde está a vergonha na cara?

segunda-feira, 21 de março de 2011

CENSOS 40 Anos depois

Oficialmente começam hoje os censos da população e da habitação.
Por esta altura há quarenta anos, tinha eu saído da tropa há pouco tempo, casado, dinheiro certo só o que vinha do pequeno vencimento da companheira, então 3ª ou 2ª oficial dos SMAS, o restante vinha de actuações a fazer folgas no Casino Estoril, um ou outro trabalho que aparecesse na música, e nada mais. Entretanto, ajudava o meu pai na sua oficina. Eis que surgem os Censos da Habitação e da População de 1971, sabendo da minha disponibilidade e pensando que aquilo ia dar bom dinheiro, o Sr. Acácio Soares Faria, pessoa muito amiga do meu pai, e que me considerava como se fosse da família, ofereceu-me esta empreitada que aceitei de muito bom grado, com o meu amigo e companheiro da música Tó Gandara. Foi algo diferente de tudo o que até ali fizera, e enquanto o prometido emprego no Banco não chegava, lá fui bater de porta em porta, ajudar a preencher os papéis, porque era gritante o analfabetismo.
Duas imagens diferentes ficaram retidas para toda a minha vida:
- A primeira foi em Nafarros, uma família muito pobre e ao mesmo tempo desprovida de qualquer humanidade, tinha o pobre pai velho, a dormir numa capoeira rectangular.  Por baixo estavam galinhas, em cima uma barraca feita rectangularmente, onde só cabia uma pessoa deitada, sem pé direito, 60cm de altura o maximo. O senhor Acácio, era o represente da Junta de Freguesia, não sendo Presidente nem Vice, existia a figura do Cabo Chefe, ele era essa figura, e, determinou que a partir daquele momento o velhote teria que dormir em casa da família.

- Outra mais alegre, embora a ignorância e o analfabetismo não tenham muita graça, a ingenuidade da coisa faz rir.
Eu preenchi centenas de impressos, não ganhava mais por isso, mas que fazer quando as pessoas coitadas não sabiam ler, e algumas que sabiam estavam-se a borrifar para os papéis (à portuguesa), num desses papéis uma familia residente na Vila Velha (a mãe era a única pessoa que estava na habitação), eu estava a fazer-lhe as perguntas, e quando cheguei à pergunta de quantos filhos tinha, ou teve?, resposta:
-Oito vivos e quatro avoltos!
Eu fiquei petrificado, primeiro não percebi logo o que ela queria dizer, depois o meu cerebro começou a trabalhar a 100 à hora, para ver o que era o significado daquilo, com um esforço para manter a compostura, lá lhe disse a palavra certa interrogando; - Quer dizer com isso abortos, certo? Isso, isso!...
Fiquei sempre fã deste trabalho, entendo que é um dever de cidadania, mas sei que os resultados infelizmente, pela maneira de ser do nosso povo, vão sair adulterados.
Os censos da população e habitação, fazem-se de 10 em 10 anos.