sexta-feira, 22 de abril de 2011

OS MÚSICOS E A MENDICIDADE

Já lá vão uns anos, numa viagem que fiz á Holanda, fiquei deliciado a ouvir cinco excelentes músicos russos, que estavam a tocar em Amesterdão junto ao edificio da Ópera desta cidade. Tocavam espectacularmente, tudo instrumentos de sopro, o que para mim ainda me fascinou mais, dadas as minhas raízes musicais. Para mim tudo aquilo me pareceu normal, as pessoas passavam davam dinheiro, uma senhora ofereceu-lhes um ramo de flores que acabara de comprar, como numa estreia, ou um concerto de uma diva, eles não tinham aspecto de mendigos, e tocavam como deuses.
Agora vamos entrar na nossa realidade, Portugal. O nosso meio artístico, e sobretudo a nossa maneira de encarar aqueles que não tendo trabalho como músicos nos locais habituais, são forçados a virem para a rua, e têm alguns um aspecto muito pobre.  Quem passa nem se digna olhar para eles, quanto mais ouvir alguma coisa daquilo que eles tocam, sobretudo os portugueses ficam indiferentes, não ouvem, não param, não dão nada nem um cêntimo.
Hoje de manhã num pequeno passeio matinal aqui em Vila Real S. António, na artéria de maior movimento, há sempre animação de rua, estátuas, músicos, e na Praça Marquês de Pombal, normalmente estão músicos andinos, com as suas flautas, tocam parece música celestial. Nestes dias de maior movimentação vêm sempre músicos locais, em duos e trios, e  vê-se pela "tarimba" que têm, e pelo reportório, que são pessoas que ficaram sem os seus empregos na indústia hoteleira, que deu trabalho a centenas de músicos, alguns deixaram as suas terras para virem para cá, porque aqui é que havia trabalho. Havia, mas já não há!
Os hotéis que antes tinham uma banda com quatro ou cinco elementos, hoje ou não tem ninguém, ou têm lá um entretainer, que com música assistida tipo karaoque, distrai os clientes, que em face do que vêm também normalmente não ligam ao pobre do músico que a troco de uns euros (poucos), faz o que pode.  A crise tudo varreu, embora na música ela já esteja instalada há mais de dez anos.

1 comentário:

  1. O que me assusta de facto, é que a decadência está a atingir todos os aspectos da vida. Tenho muito medo do que se prepara para acontecer. Será por estar velha?

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